CRÕNICAS
DO COTIDIANO (
E.G.A.)
- Vovô, o que quer dizer próximo?
-
O que está perto, respondeu o avô, sem desviar os olhos do jornal.
-
Amar ao próximo é amar quem está perto? Insistiu o menino.
-
Vou tentar explicar melhor, disse o avô, dobrando o jornal e se aproximando do
neto.
Próximo,
aí, tem outro sentido. Jesus Cristo, quando os discípulos lhe perguntaram “ Quem é o meu próximo?” inventou uma
história conhecida como Parábola do bom samaritano, para que eles mesmos
descobrissem o significado da palavra.
Como
é muito complicada para você entender o que seja fariseu, levita, samaritano,
eu vou contar uma historinha que aconteceu há em pouco tempo atrás. Quer ouvir?
-
Claro, respondeu o neto, sentando ao lado do avô. Adoro suas histórias...
Semana
passada, houve mais um “apagão” na cidade, começou o avô. Um casal de velhinhos
ao chegar do médico ao seu prédio,não pôde usar o elevador e ficou na portaria,
com outros moradores.
O
velhinho, preocupado com seus aparelhos elétricos que deixara ligados ao sair,
resolveu subir os onze lances de degraus, apesar da fragilidade de sua saúde.
Começou
a subir, contrariando sua esposa, que ficou naturalmente preocupada.
Subindo
vagarosamente, fazendo uma pausa de andar em andar, aproveitando a tarde estar
ainda clara, embora o calor fosse de mais de 40º, quando chegou ao 10º andar (
um abaixo de onde morava com sua esposa) viu a porta do apartamento em frente à
escada aberta e o morador sentado em sua cadeira de rodas, suado, sem camisa, se
enxugando com uma toalha.
Era
um senhor paraplégico que morava sozinho
no 1012 ( lado do sol à tarde) com quem apenas trocava cumprimentos eventuais,
ao se cruzarem no elevador, ou na entrada do prédio.
Sentou-se
no chão da escada, para descansar um pouco, cumprimentou o vizinho, comentou o
calor e ouviu dele:
-
O senhor está passando mal? Quer um copo dágua gelada? A geladeira está parada,
mas ainda tenho água suficiente...
Enquanto
falavam, passou entre eles uma jovem vizinha do velhinho que morava do seu lado
direito, sem pedir licença ou cumprimentá-los.
-Bom
dia, disse o velhinho, irônicamente, afastando-se para lhe dar passagem, sem
obter resposta...
O
cadeirante, também idoso, balançou a cabeça e insistiu: “Quer um pouco dágua?”
Agradecendo,
o velhinho continuou a subir o andar que faltava e entrou em casa.
Neste
ínterim, sua esposa, preocupada, resolvera subir também, apesar de seus joelhos
e coluna vertebral operados.
“
Vou aproveitar a jovem moradora do apartamento do lado esquerdo, que conheço
desde quando era colegial, (que estava chegando), para subir com ela, pensou a
velhinha; assim estou garantida...”
-
Não posso lhe fazer companhia, desculpe, disse a moça ao ser convidada a
subirem juntas; estou com muita pressa; e seguiu escada acima.
Felizmente,
ao chegar ao sétimo andar, a energia elétrica foi restabelecida e todos
voltaram às suas atividades costumeiras.
-Agora,
disse o avô a seu neto, eu pergunto a você, que é inteligente, quem era o
próximo dos velhinhos desta história?
-
O que ofereceu o copo dágua, respondeu o neto, prontamente.
-
E o que você aprendeu nesta história? Insistiu o avô.
Depois
de pensar um pouco, fazendo um trocadilho, o neto deu a resposta certa:
-Que
nem sempre o próximo é o que está mais próximo. Próximo é aquele que procura
ajudar o necessitado quando é preciso.
-
Disseste bem, finalizou o avô, parafraseando o Mestre dos mestres: Vai e faze o
mesmo.